1º de Junho (67º)

Estou escrevendo em tempo real direto do gramado em frente ao Congresso Nacional.

Resolvi escrever porque não queria “esfriar o sangue”, deixar passar o calor do momento. É uma cena linda. De onde escrevo posso ter uma visão geral e há uma multidão no centro do poder afirmando juntos que o Brasil é de Jesus e de quebra exercendo cidadania. Pessoas de vários estados. Incrível a quantidade de pessoas de fora do Distrito Federal. Independente de religião, denominação, independente de opiniões, doutrina. Nada está separando o povo de Deus neste momento. Jovens, velhos, gente de terno, gente de dread, negros, brancos, mestiços, albinos. Todos unidos.

Estou esperando o momento em que alguém pegará o microfone e pedirá para que o povo de deus clame, se humilhe, peça perdão e misericórdia. Até este momento só tivemos a menção a II Crônicas 7:14, nada de prático. Há muitos discursos políticos e isso é inevitável. Afinal de contas dormimos no nosso posicionamento espiritual, ficamos fechados dentro das nossas paredes e agora temos que fazer pressão política. Fico viajando olhando para a multidão e imaginando um quebrantamento coletivo. Precisamos amar. Necessitamos disso. Aprender a amar a Deus acima de tudo e isso vai nos fazer amar o outro independente de quão visível e inaceitável seja o seu pecado.

Falando em necessidade de amor, existe um grupo pequeno de defensores da causa GLBT. Eles estão separados por alguns policiais enfileirados. Estavam bem eufóricos no inicio, gritando algumas frases, mas nesse momento estão sentados olhando a multidão. A diferença é colossal. Temos uns quarenta defensores do movimento GLBT, entre meninas e meninos. Não sei contar multidões, mas tenho a impressão que por baixo há mais de vinte mil pessoas dizendo não ao PL 122. As pessoas continuam chegando. Não é um evento exclusivo de evangélicos, mas de homens e mulheres que estão se movimentando em defesa da família, em defesa da palavra de Deus. Estou sentada ao lado do grupo de meninas e meninos que por algum motivo no decorrer de sua história escolheram ou foram impelidos a uma fragmentação em sua identidade. Arrisco dizer que a falta de amor, falta de referenciais de amor os fizeram se diluírem ao ponto de questionarem o que são essencialmente: o seu gênero. Eles continuam sentados, acho que desanimaram um pouco, tendo em vista que a multidão continua crescendo. Ou, talvez, duvidaram por algum momento do motivo que os levaram ali, nesta tarde. Repito que a visão é linda de onde estou. As pessoas se voltaram para o congresso com suas mãos levantadas e estão clamando por um derramar do Espírito de Deus sobre os nossos representantes. O povo ora. Glória a Deus.
Há faixas das mais diversas, camisetas, adesivos, cartazes. Tem um grupo que acabou de estender uma faixa com a frase “universitários contra o PL 122. Feliz estou. Alguns fotógrafos se aproximaram dos meninos e meninas que se encontram homossexuais e eles estão mostrando os cartazes com frases tipo “o Estado é laico”, “homem com homem, mulher com mulher” e outras. Estou frisando isso porque o grupo é mínimo e quero saber com que intensidade a mídia vai potencializar esses poucos que estão aqui. Tem alguns muitos jovenzinhos. Não sabem o que estão fazendo, não sabem que são amados. A multidão é diversa: frades, padres, pastores, ateus, profetas, católicos, espíritas, evangélicos, curiosos. O Silas pegou a palavra e para o meu alivio está transferindo a responsabilidade para todos. Isso é cidadania, afirma. Acabou de dizer que está amparado pelo artigo quinto da Constituição e protestou indignado ao microfone declarando que o STF rasgou a constituição. Achei o máximo porque essa também é minha opinião. O Supremo não tem autoridade para legislar. Na verdade é uma afronta ao Congresso. Ele está dizendo que não esta aqui para falar mal dos homossexuais e sim para dizer não à Lei do privilégio. Nesse momento os meninos e meninas que se encontram gays ou lésbicas se calaram. São jovens sem argumentos. A livre manifestação do pensamento é inviolável segundo a Constituição. Silas continua a sua fala avisando a Senadora Marta Suplicy sobre isso, tendo em vista que o posicionamento da senadora sugere que ela não conhece a Constituição de seu país. Está esclarecendo também alguns artigos da Carta Magna como o que proíbe emendas às garantias fundamentais. Por fim, faz um desafio para a mídia, pedindo que todos publiquem a minuta do PL 122. Disse que já falou isso pela manhã na Câmara e fez o mesmo desafio para a bancada que defende a aprovação desse projeto inconstitucional. Estou olhando algumas crianças correndo no gramado e pensando que deveria ter no mínimo o triplo dos 20 mil que estão aqui. Pensando no futuro desses pequeninos afirmo que precisamos acordar. Ir à Nínive. Obedecer e de fato amar a Deus.

Um céu perfeito. Uma tarde histórica. Uma cena linda. Não poderia deixar de registrar.