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Há uma desconstrução (19º)

Há um tempo atrás falei um pouco sobre a minha competitividade. Deixei o assunto pendente e volto nele hoje. Sempre fui uma boa aluna no colégio. Minhas notas eram altas. Nas primeiras séries era considerada aluna destaque. Nunca fiquei de recuperação. Tive uma vida escolar sem frustações ou dificuldades. Meu pai sempre foi muito rígido, muito fechado. Ele tem uma história de vida triste. Com ausência quase que total de afeto e amor. Diante dessas circunstâncias tivemos a seguinte construção:

___ Pai, tenho uma surpresa para o senhor! (quando chegava em casa, por exemplo, com uma prova gabaritada ou um presente por ter sido considerada destaque) 

___ Que negócio de surpresa, menina. (já um pouco impaciente)

___ É pai, tirei 10 na prova de matemática! (saltitante)

___ Você não fez mais do que a sua obrigação. (muitas vezes em tom ríspido e bem pouco acolhedor)

Ele não sabia o que estava fazendo. Não fazia a menor idéia do que aquilo significaria para mim. Na hora, acho que eu ficava meio triste. Minha mãe já intervia me falando que era muito boa aluna e foi muito bom eu ter conseguido mais um “SS”. Me abraçava e dizia parabéns e outros elogios. Me sentia bem e aparentemente já não me lembrava da resposta do meu pai. Essa cena se repetiu inúmeras vezes. Muitas mesmo. Não sei porque nunca desistir de lhe mostrar os bons resultados. E ele nunca deu outro tipo de resposta. Nunca um parabéns. Nunca um abraço. Nunca uma palavra de incentivo ou demonstração de alegria. Infelizmente, ele nunca aprendeu a fazer isso porque ninguém nunca proporcionou isso a ele nem na infância, nem na adolescência e na vida adulta ele já havia se fechado diante de tanta falta de amor e afeto. Meu pai foi mais uma vítima. Ele não sabia o que estava fazendo. E só poderia me oferecer o que tinha. Isso é fato, sempre. 

Depois de alguns anos, já na juventude, descobri que meu pai falava muito bem ao meu respeito para outras pessoas. Me elogiava para seus amigos. Me colocava como exemplo para outros familiares. Ele tinha orgulho de mim. Saber isso foi muito bom. Fiquei feliz. No entanto, havia uma construção dentro de mim sólida e cheia de tentáculos. Que esse fato já não podia alterar.

Quando fiquei sabendo que não havia sido aprovada no vestibular por causa de dois itens. Fiquei muito decepcionada. Não conseguia ficar alegre com o fato de ter ido muito bem na prova ou ter grande chance de ser classificada na segunda chamada. Nem ao menos me alegrava por ter ficado tão próxima, apesar de não ter estudado. Não tinha feito a minha obrigação. Não tinha sido boa o bastante. Isso me deixou inquieta e angustiada. Era uma reação que eu não sabia de onde vinha, não controlava. Conversei com o Beto sobre isso e falei muito com Jesus nos dias que se seguiram. A grande revelação  é que a experiência com meu pai que mencionei acima é de uma importância constrangedora.  Reagi dessa forma diante do resultado do vestibular porque fui ensinada a ser assim. Não em uma escola formal com direito a diploma e colação de grau. Esse tipo de escola é aquela que você está sendo totalmente formada, mas ignora que coisas estão sendo impressas em você. A escola da nossa criação, da nossa família, da nossa cultura, a escola da vida…

Sei que foram quase trinta anos construidos nesse alicerce defeituoso. Tenho muita dificuldade em relaxar com relaçao aos resultados e tenho entendido que nesses dias Deus tem me mostrado isso. Ele quer me passar para uma nova fase. Uma fase que desejo há tempo. Uma fase que Ele já prometeu em muitos momentos. No entanto, preciso, ser refeita pelo oleiro. Preciso ser livre dessa amarra de achar que posso controlar os resultados e que somente serei aceita ou amada se for boa o bastante. Muitas vezes, num referencial impossível de ser alcançado.

Quero orar por cura sem me preocupar se a cura virá. Quero falar de Jesus para as pessoas sem me atentar para o que elas vão pensar ao meu respeito. Quero pregar, sem me paralisar. Quero empreender, sem temer. Quero arriscar mais. Obedecer mais. Depender mais de ti, Jesus. Estar totalmente livre da opinião alheia e também da minha própria. Quero, enfim, receber todo o amor do Pai…

Experimentem questionar as suas atitudes e reações. No começo é desconfortável, mas depois há um alívio inexplicável. Deixe Deus intervir… Amo vocês!