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A Semiótica da Parábola do Semeador

Texto fantástico escrito por uma amiga fantástica… Vale muito a pena ler até o fim! 

A Parábola do Semeador nos alimenta com o simbólico. A metáfora da semente, semeador e fruto encontram significados profundos na nossa identidade. 

Ao estudar a parábola o interpretante logo estabelece as relações: semente significando palavra, semeador, aquele que transmite a palavra e terra, a área do nosso entendimento que percebe e recebe a palavra. Se quem a lê não puder fazer essas conexões, o próprio Jesus e a faz logo em seguida.

Contudo, Deus é ilimitado e Sua palavra reflete sua infinita ‘ilimitude’.

Segundo Moscovici, As representações sociais nos mostram que existe uma relação sistêmica, no sentido que não existe sujeito sem sistema e nem sistema sem sujeito. Para Spink, as representações são uma expressão da realidade intraindividual; uma exteriorização do afeto estruturas que revelam o poder da criação e da transformação da realidade.

A cognição social perpassa o individual. Eu acredito muito nessa visão sistêmica, já que estamos interagindo o tempo todo com o meio, transformando-o e sendo transformado por ele. Por isso, uma boa receita para o estresse é passar tempo em contato com a natureza, fazendo trocas ‘oxigênicas’. 

Mas o que tem a ver a psicologia social com o texto do semeador?

O semeador saiu a semear,a semente cai em vários terrenos.

O primeiro deles é à beira do caminho. Beira do caminho nos sugere um região periférica. A modernidade líquida nos torna homens líquidos, segundo Bauman. Nessa pós-modernidade o tempo é o bem escasso e o importante é fluir para um destino, sem ao menos compreender esse trajeto. O fim em si mesmo é o bastante. Segundo Deus, em Eclesiastes 7:8, melhor é o fim das coisas do que o princípio, para o homem pós-moderno a palavra descartável é sinônimo de dinamismo.

Para Bauman, no mundo líquido moderno, a solidez das coisas, asssim como a solidez dos vínculos humanos, é vista como uma ameaça: qualquer juramento de fidelidade, qualquer compromisso a longo prazo prenuncia um futuro prenhe de obrigações que limitam a liberdade de movimento e a capacidade de perceber novas oportunidades.

Os homens vivem à beira do caminho pela falta de tempo para o que é importante e se tornam superficiais naquilo que Deus nos deu de mais importante: relacionamentos.

O resultado é uma vida sem brilho nos olhos, apática por não saber diferenciar o essencial do supérfluo, o ‘ser’ do ‘ter’, a profundidade da superfície.

Quando a semente cai entre as pedras ela encontra uma história construída pelas relações, nunca superadas mágoas e rancores. A mágoa vira uma pedra que não permite que a luz entre e limita o comportamento social. O homem deixa de se relacionar por causa do seu contexto histórico de feridas relacionais e retroalimenta em si mesmo inserindo uma barreira contra a luz. As raízes são superficiais, pois a vida é superficial. Ao primeiro sinal de esperança, logo um mecanismo de defesa se acende preferindo morrer a luz penetrar, preferindo matar um relacionamento por medo de se magoar, a vivê-lo com intensidade. Na filosofia do Lex Luthor, uma pessoa é aquilo que ela sempre foi e não aquilo que ela foi na última conversa, no entanto para o homem a última conversa é ponto final de uma história. 

Em Lucas 11, João conta a história de Lázaro, amigo de Jesus, que morre e antes que Jesus faça o milagre de ressuscitá-lo, Ele manda que se retirem a pedra. Segundo Fabiana Gonçalves, devemos tirar as pedras para possamos permanecer vivos.    Havia uma pedra que impedia que a luz entrasse, impedia que a vida entrasse. Ao retirá-la o relacionamento se restabelece. Para Aline Albernaz, o maior milagre na vida de Lázaro foi ele se tornar amigo de Jesus, para ela, havia uma pedra física que impedia Lázaro de viver, mas existem muitas pedras invisíveis que nos impedem de sermos amigas Dele.

Retirar as pedras é ser livre para é restabelecer e aprofundar relacionamentos horizontal e verticalmente.

Para aquelas sementes que caem sobre os espinhos, espinhos que sufocam e matam o próprio fruto, são aquelas que nos lembram que somos humanos e que, da mesma maneira que somos magoados, ferimos o outro. Também não somos o que fomos na última conversa desastrosa, mas nossa natureza corruptível ainda não transformada pelo caráter de Cristo faz de nós armas letais que ferem e matam o próximo, com palavras, com sentimentos e até mesmo com nosso senso de justiça própria. Esquecemos que a justiça de Deus é Graça. 

Com tudo isso, esquecemos que o mandamento é amar ao próximo, esse deveria ser nosso senso de justiça.  Essa é a terra boa, aquela, que é arada, remexida até a profundidade, dela são arrancados os vermes e insetos, frutos de uma natureza imunda, um comportamento transformado pelo cuidado. Os produtos que são inseridos tornam o PH do solo ideal para a semente, permitir-se estar em construção. Reconhecer-se inábil por natureza e totalmente dependente do semeador. Para ter o fruto igual à semente. Para ter raízes profundas. Para receber a Luz. Para Amar!

Dessa maneira, a psicologia social nos permite entender que podemos ampliar nossa compreensão sobre nós mesmos, sobre nossa história de maneira sistêmica-espiritual.

 Rebeca Moreira Soares

 Marcos 4 – Ouvi: Eis que saiu o semeador a semear. E aconteceu que semeando ele, uma parte da semente caiu junto do caminho, e vieram as aves do céu, e a comeram; E outra caiu sobre pedregais, onde não havia muita terra, e nasceu logo, porque não tinha terra profunda; Mas, saindo o sol, queimou-se; e, porque não tinha raiz, secou-se. E outra caiu entre espinhos e, crescendo os espinhos, a sufocaram e não deu fruto. E outra caiu em boa terra e deu fruto, que vingou e cresceu; e um produziu trinta, outro sessenta, e outro cem por um.